Entre a Capoeira Referenciada e a Copiada
O dias atuais tem nos convocado a pensarmos de forma mais ampliada, considerando o rompimento com alguns modelos e dogmas sociais, sendo a capoeira palco também desta demanda. Assim, tentarei tratar um pouco sobre o desafio de se romper o molde de protótipo de “super capoeira” da atualidade.
A economia de mercado tem “coisificado” pessoas, transformando-as em engrenagens de um famigerado negócio em favor do lucro a qualquer preço, e em capoeira temos isso expresso, dentre as muitas maneiras, na forma que nos movimentamos no jogo.
Geralmente o modelo de “sucesso” econômico em capoeira é aquele mais adequado ao que o “mercado” quer ver, e isso esta tão impregnado nos praticantes, que a maioria nem se percebe fazendo movimentos e expressões completamente desconectados da dinâmica cultural da arte, e/ou alheio ao que se pede no ritual daquele momento.
Certa feita perguntei a um destes “super capoeira” do momento, por que ele durante o jogo fazia uma parada de mãos, arqueando a coluna e olhando para o chão? …Ele respondeu que fazia isso porque era um movimento difícil e esteticamente bonito….Eu, por curiosidade, perguntei…E se o cara que tá jogando com você te der uma cabeçada?….Ele respondeu….”Aí ele está sendo desleal, pois é o momento do floreio …..Agradeci o diálogo e fui embora….No outro dia, após a oficina deste rapaz, estavam todos tentando fazer o mesmo movimento….E aí, o que dizer?
Entendi que imitar evita pensar muito, pois basta copiar, contudo, a capoeira nem sempre segue o ordenamento bonitinho….rsrsrs…..Na primeira festa de largo destes capoeiras cópias, eles entenderam que “calça de homem não cabe em menino”….E o pior é que muitos não entenderam até hoje o que aconteceu…
Qualquer movimento é benvindo em capoeira, desde que o “texto/jogo” respeite o “contexto/ritual”, pois fora disso, irá facilitar muito a vida de quem joga com essas figuras, pois viu um copiador, já viu todos.
Nossa reivindicação é em favor de termos uma capoeira com referência, em que a forma de jogo, lembra alguém que me inspira, e não o que temos visto hoje, uma total perda de identidade.
O esporte capoeira me preocupa, pois a depender do formato, poderá enquadrar, rotular e pasteurizar a dinâmica de jogo, e se assim for, a capoeira vai “chorar” e se esvair do corpo de quem a prática.
O mistério da capoeira é o “velho no novo”/ancestralidade, e o espírito “novo no velho”, com capacidade adaptativa temporal para continuar contribuindo com a arte , reinventando-se sempre que necessário.
Vem comigo, pois sozinho não consigo…Vamos na “forma” sem forma, no jogo que deixa fluir o inusitado e faz brotar a capoeira de “dentro pra fora”.
Axé.
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